No começo do século passado, a necessidade de ligar a Ilha de Santa Catarina ao continente começava a se intensificar. O trajeto só podia ser feito por barcos e barcaças. Bastava um vento forte ou um mar agitado para inviabilizar a travessia e isolar por completo a maior parte dos 40 mil habitantes de Florianópolis.
Além da necessidade prática, havia um componente político: com essa dificuldade, surgiam pressões para mudar a Capital de lugar, para o continente. Esses fatores levaram o então governador Hercílio Luz a buscar uma solução.
E encontrou bem mais de uma. O desafio despertou a atenção de engenheiros brasileiros e estrangeiros, e diversas propostas foram elaboradas. Havia um fator em comum entre todas elas: a localização. O canal do Estreito foi escolhido por ser menor distância entre a ilha e o continente.
Inicialmente, a empresa Byington and Sundstrom havia apresentado um projeto de estrutura com viga treliçada, do tipo cantilever, bastante usada para pontes ferroviárias. A ideia até foi aceita, mas não evoluiu por dificuldades com financiamento.
Foi então que apareceu a ideia da ponte pênsil com barras de olhal. Mais viável economicamente, atendia a necessidade da época. A equipe do projeto original era coordenada pelos engenheiros Steinman e Robinson. Os desenhos de produção dos componentes e a fabricação da estrutura metálica foram realizados pelas empresas United States Steel Products Company e American Bridge Company.
Não demorou para aparecer a primeira dificuldade. O Brasil ainda não tinha produção de ferro fundido e aço em volume suficiente para construir pontes como a que seria erguida na Ilha de Santa Catarina. Por isso, o material foi todo trazido dos Estados Unidos. Quatro navios de grande porte foram necessários para trazer as peças a Florianópolis, percorrendo 9.655 quilômetros. O material chegou ao canteiro de obras em perfeitas condições.
Estava tudo pronto para o começo da construção da “Ponte do Estreito”, que logo se tornou “Ponte da Independência”, nome dado pelo próprio governador Hercílio Luz.
As instalações utilizadas para as obras apresentaram duas frentes de trabalho. A do continente, com maior área plana, concentrou as primeiras atividades desenvolvidas. A insular serviu como base para montagem das demais partes. As instalações simultâneas permitiram a utilização de diferentes equipes de trabalho, reduzindo bastante o tempo de execução da obra.
Em 8 outubro de 1924, com a saúde já debilitada por um câncer no estômago, o então governador Hercílio Luz inaugurou simbolicamente a ponte. Ele atravessou uma réplica de madeira, construída por uma equipe liderada pelo delegado João Grumiché especialmente para o ato simbólico. Na mesma semana, a ponte recebeu o nome de Hercílio Luz, resultado de uma proposta do então deputado Acácio Moreira, aprovada por unanimidade. O governador faleceu no dia 20 de outubro.
As obras seguiram com rapidez e, 570 dias após a morte do idealizador, a Ponte Hercílio Luz era inaugurada. Numa quinta-feira de muita chuva, a estrutura foi aberta ao tráfego total.
Os então 40 mil habitantes da Ilha de Santa Catarina tinham uma alternativa mais fácil para entrar e sair, não dependendo mais apenas das balsas para chegar ao continente.
Como se tratava de uma grande novidade, muitos moradores da capital vieram do interior da Ilha de Santa Catarina para assistir à solenidade. A inauguração surpreendeu quem não conseguiu acompanhar as obras e muitos falavam até em milagre e bruxaria. A ponte colocou a cidade entre as poucas do mundo a contar com um equipamento de última tecnologia naquela época.
A função da ponte era garantir a travessia segura dos usuários, além de permitir a passagem rápida de mercadorias e animais. Mas também havia outro objetivo: implantar um sistema ferroviário sobre a ponte, algo que nunca chegou a existir. Até 1935, um pedágio chegou a ser cobrado, inclusive de pedestres.
Os viadutos e o vão central foram projetados para comportar o tráfego de uma ferrovia funcionando em apenas dois trilhos posicionados no centro da ponte. Já a pavimentação de madeira acompanhou a ponte durante muitos anos. No entanto, ela acabou sendo substituída pelo asfalto por apresentar alguns problemas: o piso vibrava excessivamente, causando ruído quando os veículos passavam e também por ser muito escorregadia nos dias de chuva.
Por quase 56 anos, a Ponte Hercílio Luz foi um importante instrumento da mobilidade urbana em Florianópolis, mas recebeu poucos serviços de manutenção.
Devido às condições precárias e à deterioração das barras de olhal, a Ponte Hercílio Luz foi interditada totalmente pelo Departamento de Estradas e Rodagens (DER) no dia 22 de janeiro de 1982, quando absorvia 43,8% do tráfego de Florianópolis. Eram mais de 27 mil veículos por dia. A Ponte Colombo Salles, aberta cerca de sete anos antes, passou a ser a única ligação entre ilha e continente.
Nos anos seguintes, a ponte chegou a ser reaberta parcialmente, mas foi novamente interditada em 1991, desta vez em definitivo e por completo. O piso asfáltico do vão central foi retirado, aliviando 400 toneladas de peso.
Quase 25 anos se passaram até que o Governo do Estado decidisse recuperar a Ponte Hercílio Luz. A primeira etapa da obra iniciou em 17 de fevereiro de 2006, e a segunda em 27 de novembro de 2008. Em 2014, o contrato com o consórcio que realizava a obra chegou a ser rompido, por causa da lentidão nos trabalhos.
No início de 2019, o Governo de Santa Catarina estabeleceu o dia 30 de dezembro como a data de reabertura ao tráfego, com a inauguração em março de 2020. Desde então, todas as providências foram tomadas para agilizar a obra e garantir a entrega nos prazos estabelecidos.